ORITA
A encruzilhada é um ponto de ligação, fusão, interseção, confluência, fronteira e, ao mesmo tempo, desvio, ruptura, divergência. Leda Martins, no livro Afrografias da memória (1997), explica que o termo se transforma em metáfora se pensarmos que “a cultura negra é uma cultura das encruzilhadas”.
Esse terreno é também invocado por Muniz Sodré no livro Samba, o dono do corpo (1998). Ali, ele alude à síncopa, ou seja, também a ideia de intervalo, que, na música, favorece os meneios, e dá origem ao tal “jeito de corpo” do brasileiro.
É pelas brechas, pelas fendas, pelo “jeito de corpo” que a cultura negra vem conseguindo atravessar seu patrimônio para marcar, de maneira inquestionável, a formação da identidade nacional. Nessa abertura se “atreveu”, “ousou” instalar-se, para propiciar uma das mais importantes influências para a formação da identidade nacional.
Este espaço, legitimado e ocupado pelas comunidades de terreiros, é terreno de passagem, mas também de permanência e, nas narrativas mitológicas de tradição negra, é dedicado ao movimento, ao trânsito. As imagens deste eixo se referem à divindade que o ocupa como guardiã.